Minha amiga Hortênsia sugeriu que nós falássemos nesta semana sobre infidelidade. Penso que esse é um tema interessante. A infidelidade muda de significado de acordo com o tempo e com o contexto social.
No início do século passado, um homem procurar uma mulher fora do casamento era uma forma de poupar a esposa, uma vez que o papel desta era procriar. Com o passar dos anos e a evolução dos costumes, a infidelidade passou a ser vista como a quebra dos acordos numa relação a dois. E aí surgem muitos modelos de relacionamento: relações abertas onde se pode ter a liberdade do envolvimento com outros parceiros; relações tradicionais; relações casuais. Enfim, cada casal tem seus acordos e suas regras.
Fiquei pensando até onde vai o limite da infidelidade e isso me remeteu a uma situação que vivi em um momento da minha vida. Vou contar, preservando as pessoas.
Eu vivia uma relação com uma pessoa muito agradável e interessante a quem escolhi para compartilhar a vida. Num dado momento conheci uma mulher. Ela não tinha nada de mais. Não era mais bonita que a minha companheira, nem me pareceu mais agradável. No entanto fomos desenvolvendo tamanha afinidade que era difícil passar um dia sem conversarmos.
O tempo foi passando e o que começou com uma conversa casual motivada por um assunto banal tornou-se uma necessidade. Eu sabia que ela sentia a mesma vontade que eu de compartilhar aqueles momentos.
Por estranho que pareça nunca passamos das conversas. Como na música Eclipse Oculto, de Caetano Veloso, o receio provavelmente mútuo, de ir mais longe, nos paralisou…
“E paramos no meio
Sem saber os desejos
Aonde é que iam dar
E aquele projeto
Ainda estará no ar…”
Aí, caros leitores e leitoras, pergunto a vocês: isto é infidelidade? Ou será que fui fiel, afinal? Se fui infiel, fui a quem? A mim? A minha companheira? A ela? Ou fomos todos fiéis uma vez que nada aconteceu e ninguém ficou sabendo dos nossos incríveis momentos? Do nosso eclipse oculto?
Gosto muito dessa história de vocês dois escreverem sobre um mesmo tema com enfoques diferentes. Acompanho o blog e geralmente você traz uma perspectiva bem pragmática dos assuntos. Me surpreendi com o seu eclipse oculto.
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